Bebês não têm autonomia e precisam de cuidados constantes, certo? Errado. Essa visão de que a criança de 0 a 2 anos é um ser passivo, ainda não preparado para a aprendizagem, é coisa do passado, como explica a professora Patrícia Maria Takada, que, no momento, presta serviço na Secretaria de Educação da prefeitura de São Paulo: "O cuidar e o educar são indissociáveis. O cuidado físico está inserido em um contexto. E o berçário tem de cumprir também o papel educacional", afirma. Ou seja, não basta trocar, dar banho e colocar para dormir. O professor de berçário (sim, professor, e não mais "cuidador") deve ser preparado para lidar com crianças da faixa etária, promovendo as chamadas "experiências significativas" - com historinhas e músicas, nas brincadeiras e durante as refeições -, tornando-as desde cedo protagonistas de suas aprendizagens.
Por tudo isso, o berçário pouco tem a ver com o trabalho de uma babá, mesmo quando o tratamento é bastante especializado, como acontece no Pequeno Reino, que fica na Vila Nova Conceição, bairro nobre da capital paulista. Lá, a relação é de um profissional por três bebês, enquanto que em berçários da rede pública e outros da rede privada, a relação costuma ser de um profissional a cada cinco a sete bebês. "Uma babá não tem a base teórica necessária para que estimule a criança nas brincadeiras e na sociabilidade", afirma Beatriz Peres Goettert, psicóloga e pedagoga, que fundou o berçário há duas décadas.
Outro aspecto a ser levado em consideração é o ambiente, que deve ser acolhedor. Porém, a professora Patrícia lembra, ainda, que nem sempre um visual atraente, com uma decoração bonita, diz muito sobre o berçário. "O mais importante é o processo, ou seja, como se desenrolará a relação com a criança e também com os pais", ressalta ela, que, além de contar com sua experiência de 20 anos na educação básica, baseia-se em publicações oficiais do governo federal e municipal, como "Tempos e espaços para a infância e suas linguagens", disponível no site da prefeitura de São Paulo.
Veja a seguir elementos essenciais de um bom berçário:
Espaços diversificados - Espaços diversificados para a criança repousar, brincar, se alimentar e ter contato com outras crianças. A idéia de confinamento e tranqüilidade absoluta é ultrapassada. Apenas o local de repouso deve ser resguardado, na medida do possível, para que a criança possa descansar com sossego. O refeitório deve ser separado e muito bem limpo. Além disso, um pátio onde as crianças possam brincar ao ar livre é bem-vindo.
Brinquedos adequados - Brinquedos adequados para a faixa etária. "De preferência, materiais que desafiem a criança, fazendo-a avançar o desenvolvimento em suas aprendizagens", ressalta a professora Patrícia Maria Takada.
Socialização - O bebê aprende quando interage com adultos e outras crianças de sua idade e mais velhas.
Educadores treinados - Educadores preparados, com formação específica para a faixa etária, que conversem com as crianças, interajam com elas e saibam, também, realizar os cuidados básicos com higiene e alimentação. É recomendado que o professor chame cada criança pelo nome desde cedo, para que se crie a noção de indivíduo.
Ambiente acolhedor - Ambiente arejado e seguro. O ideal é que haja iluminação natural e decoração atraente, mas que não chegue a ser poluída. Um ambiente bonito é mais acolhedor e estimulante. No chão, barras próximas às paredes, almofadas e rolos ajudam as crianças a se movimentarem. Tomadas e fios elétricos devem ficar fora do alcance dos pequenos. A presença de espelhos é importante para a construção da identidade. Cuidados com a higienização de todas as áreas são fundamentais.
Pais presentes - Bom relacionamento com os pais. Deve haver um canal aberto de comunicação entre pais e educadores, que podem compartilhar experiências sobre a criança. Quanto mais a criança for conhecida pelos dois lados envolvidos, melhor.
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